sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Diários Colinérgicos IV

Postado originalmente no Blog Bar da Net

by Outran Borges Jr.

(Mein Gott!) Então… tinha uns conhecidos meus - cuja banda costuma fazer o acompanhamento musical das missas de uma paróquia local – que estavam ensaiando “Imagine” de John Lennon pra tocar na igreja. Curioso pelo fato dos caras pretenderem tocar num templo religioso uma música que imagina um mundo perfeito sem religiões, perguntei a um deles o que achava da canção:

“É uma música muito bonita, que fala de da salvação e do paraíso. O John Lennon ficou com remorso por ter dito que era melhor do que Jesus Cristo e fez esa música pra se redimir dos seus pecados”, afirmou o tecladista do grupo, acreditando que Deus escreve morse sobre linhas braille.



Pois é nesse clima, digamos, nonsense, que você pode encarar o álbum-de-natal-ou-qualquer-coisa-assim da Susan Boyle, “The Gift” (2010). A Susan é aquela prima do Shrek com uma voz de Fiona que apareceu num freak show um dia desses (vocês que assistem TV, devem saber). O álbum traz “noite feliz” e aquelas tranqueiras de sempre. Mas o engraçado mesmo é ver a tia cantando “Perfect Day” do Lou Reed, num arranjo que parece saido da trilha-sonora do Senhor dos Anéis (Imagine a Enya cantando “It’s a perfect day, drink sangria in the park…”). Depois ela ataca de “Hallellujah”, de Leonard Cohen, que também NÃO é uma canção religiosa (é uma letra genial, que utiliza metáforas religiosas, mas fala de um relacionamento), embalada num arranjo brega horripilante… Isso é oligofrenia ou Dona Susan está gozando com a cara de todo mundo? Dê de presente pra sua avó na noite de natal, mas antes coloque uma dose extra de vinho no ponche dela.



Existe metal psicodélico? Kylesa é uma banda de Savannah, Georgia, que acaba de me deixar com essa dúvida. Como diz o Allmusic, eles são fundamentalmente uma banda de metal (ou seja, fazem barulho, se você gosta de suavidade volte para álbum acima), mas trazem uma sonoridade viajante incomum para o gênero. O álbum Spiral Shadow (2010) está sendo uma das gratas surpresas do mês. A faixa-título já entrou na minha playlist aqui, mas o álbum tem muita coisa interessante, é daqueles que você ouve várias vezes pra sacar os detalhes dos arranjos. Confira faixas como “Drop out” e “Dont look back” pra viajar junto com os caras. Dê de presente pro seu tio doidão na noite de natal, mas cuidado pra quando estiver distraido ele não colocar LSD no seu ponche.

That’s all folks!

E não se esqueçam de colocar o mingau de Cremogema na janela pra esfriar.

Diários Colinérgicos III

Postado originalmente no Blog Bar da Net

By Outran Borges Jr.

Tem um aqui na vizinhança que passa o dia ouvindo música gospel. Não tenho nada contra a música religiosa e tenho muita coisa do gênero aqui, desde os belíssimos corais de Palestrina so Século XVI até “Oh Hapy Day” com Edwin Hawkins Singers. O que me assusta é a baixa qualidade que esse tipo de música vem apresentando atualmente, em geral um pop-brega da pior espécie com letras simplórias e vocalistas que confundem emoção com canto tirolês. Espero que, no paraiso, Deus prefira ouvir o mestre Johann Sebatian Bach.



A foto esquisita acima é a capa do álbum Halcyon Digest (2010), do Deehunter. A melhor novidade que eu ouvi esse mês, com certeza. Quando a crítica classifica uma banda com denominações do tipo “post-rock” ou “Dream-pop”, é porque não tem a mínima idéia do que falar a respeito: por que não dizem simplesmente que os caras fazem boa música? O Deehunter não é mais do mesmo, traz arranjosbem originais pra embalar suas belas melodias, como “Don’t Cry”, “Memory Boy” ou “Coronado”. Pra quem anda procurando novidade, essa é uma que vale a pena. Os caras já estão em seu quinto álbum e são uma banda de Atlanta, Georgia.



E por falar nesse povo racista do Sul, acaba de sair Coal Miner’s Daughter – A Tribute to Loretta Lynn (2010). A Loretta Lynn é um ícone da música country, uma espécie de Inezita Barroso do Mississipi. “Coal miner’s daughter” é o nome de sua música mais famosa, também o nome de um ótimo filme biográfico de 1980 que deu o Oscar de melhor atriz à Sissi Spacek (de vez em quando, passa no Corujão). Nesse álbum, versões legais para “I’m a honky Tonky Girl”, com Lee An Womack”; “Rated X”, com “White Stripes” e “Louisiana Woman, Mississipi man” (essa toca na rádio country do GTA San Andreas), com Alan Jackson & Martina McBride. Mas se você odeia os vocais anasalados e a guitarra havaiana, passe longe. Pelo menos, é melhor do que o Luan Santana.

That’s all, folks.

Não se esqueçam de separar 27.5% do salário pra pagar oImposto de Renda.

Diários Colinérgicos II

Postado Originalmente no Blog Bar da Net

by Outran Borges Jr.

Eita, já que andaram me plagiando pela net, vou tratar de assinar esta pífia coluna musical a partir de agora. Como diria o mestre Zé do Caixão, espero que o responsável seja enviado após a morte para o sétimo círculo do inferno dantesco, onde passe a eternidade ouvindo ad infinitum um CD dos Jonas Brothers…



Depois de quatro anos, a banda de Stuart Murdoch, meu cantor desafinado preferido, lança “Write About Love” (2010). andaram falando mal do CD por aí, mas é o Belle and Sebastian de sempre, com aquela inspiração melódica típica da terra do scotch. Momentos gratificantes em ”The Ghost of Rockschool” , na psicodélica ”I’m Not Living in the Real World” (que parece ter sido gravada nos anos 60), em “Write about love” (com a atriz Carey Mulligan – vai lá no IMDB e descobre quem é – nos vocais) e em “Little Lou, Ugly Jack, Prophet John”, essa última em colaboração com Norah Jones, a filha bastarda do Ravi Shankar. E ”I Can see your future” gruda nos neurônios. Quem gosta dos caras não vai se decepcionar (creio eu).



De onde menos se espera… daí mesmo é que não bem nada, já dizia Millôr Fernandes. Mas só pra sacanear essa regra fui surpreendido com o último álbum do Elton John. O cara se reuniu ao Leon Russell, um grande músico que já acompanhou gente como Eric Clapton, George Harrison, Rolling Stones, Joe Cocker e um bilhão de outros e que fez um certo sucesso como artista-solo no início da década de 70. O resultado é o álbum “The Union” (2010). O pessoal da terceira idade vai se lembrar do Elton John das antigas, grande pianista, sem aqueles arranjos pop de FM brega. “It wasn’t for bad” e ”The best part of the day” , dentre outras faixas, são exemplos do que Reginald Kenneth Dwight costumava ser no passado. Me deu até vontade de comprar o vinil.

That’s all folks,

Na próxima edição a gente vai falar de Beethoven, aquele cachorro simpático.

Diários Colinérgicos I

Postado originalmente no Blog Bar da Net

Diarios colinergicos agora em versão blog. Não serão posts diários, obviamente (vocês me pagam muito pouco para isso), mas estarão presentes sempre que alguém lançar algo digno de nota… Well, Well, Well, dois tiozinhos (65 e 63 anos, respectivamente) que tocam guitarra muito melhor do que você, acabaram de lançar novos (e polêmicos) álbuns.



O primeiro deles, Mr. Eric Clapton, acaba de lançar “Clapton” (2010), com uma foto de capa horrorosa, onde ele está parecendo minha tia Gecivalda que mora no interior do Piauí. O álbum traz material inédito dessa vez (em vez de ser mais uma colaboração com B.B King, Stevie Winwood, JJ Cale ou Banda Calypso) e é a melhor coleção de inéditas que ele lança em muito tempo (o próprio afirmou em sua biografia que já desovou muita porcaria no mercado fonográfico). Ouça ”Rocking Chair” ou “That’s No Way to Get Along” e perceba que o homem ainda consegue emocionar os fãs. Só não espere algo à altura do Cream, porque também aí já é pedir demais.



O segundo deles, Mr. Carlos Santana, teve uma excelente idéia: regravar clássicos do rock com o seu sensacional estilo guitarrístico inconfundível. Só que ele (ou a gravadora, ou ambos) chamou o produtor errado, e os arranjos caberiam melhor num álbum da Lady Aguilera (ou da Christina Gaga, ou de ambas). Cada faixa traz um convidado para cantá-la e, se em alguns momentos a coisa até que funciona (“While my guitar gently weeps”, dos Beatles, virou uma música de motel jóia), em outros me deu vontade de vomitar (“Back in black”, do AC/DC, com um tal de rapper chamado Nas, já entrou na minha lista de piores covers de todos os tempos).

That’s all folks,

e estaremos de volta a qualquer momento em edição extraordinária. Ou não.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Roky Erickson vive!!!

Syd Barrett, Arnaldo Baptista, Lanny Gordin... Roky Erickson está na lista dos gênios dos anos 60 cujo estado mental parece ter sido irreversivelmente afetado pelo abuso de substâncias psicotrópicas. Entretanto, no caso do Erickson, a história ganha um agravante incômodo: ele foi vítima tanto das drogas quanto do tratamento a que foi submetido contra elas!

Erickson foi um dos cérebros dos 13th Floor Elevators (o outro era o Tommy Hall, que tocava um bizarro instrumento chamado Electric Jug, responsável pela sonoridade peculiar dos Elevators). Banda pioneiríssima do Rock Psicodélico formada no Texas em 1965, diz a lenda que Janis Joplin quase chegou a fazer parte dela (mas depois resolveu viajar pra San Francisco e o que aconteceu depois você conhece...). Eles lançaram três ótimos álbuns na década de 60: "The Psychedelic Sounds of The 13th Floor elevators (1966), que trazia o único sucesso comercial do grupo: "You're gonna miss me"; Easter Everywhere (1967) - talvez o melhor deles - com jóias como "Slip inside this house"; e Bull of the woods (1968).

Depois disso, o uso abusivo de drogas combinado com o surgimento da esquizofrenia acabou fritando o cérebro do Erickson e a banda acabou de maneira melancólica. Preso por porte de maconha em 1969, ele acabou sendo enviado para o manicômio Judiciário, onde foi vítima de eletroconvulsoterapia indiscriminada e todas as barbaridades perpretadas pela Psiquiatria da época, como aquelas mostradas em filmes como "Um estranho no Ninho" e "Bicho de 7 Cabeças". Depois da alta, em 1973, Erickson nunca mais foi a mesma pessoa de antes, pois além da esquizofrenia e das sequelas deixadas pelas drogas, agora também padecia dos efeitos do "tratamento". Desde então, histórias bizarras a seu respeito não faltam, como em 1982 tentar notificar judicialmente que um marciano havia fixado residência em seu corpo...

Apesar de tudo o que lhe aconteceu, Erickson vem lançado ocasionalmente álbuns, desde "Roky Erickson & The Aliens (1980), sem nunca ter chamado muita atenção, até que em 2010... O cara lança "True Love Cast Out All Evil", acompanhado pela banda texana Okkervil River, cujo vocalista, Will Robison Sheff, produz o álbum. Esse trabalho tem sido universalmente aclamado pela crítica especializada (Allmusic, Rolling Stone, Q Magazine, NME, Spin, New York Times) e também é o maior sucesso do Erickson desde os tempos dos Elevators. Musicalmente simples, a sonoridade lembra alguns trabalhos recentes de Bob Dylan e Neil Young, com faixas bem emocionantes como “Bring Back the Past” e “Goodbye Sweet Dreams” (que obviamente, funcionam melhor se você prestar atenção nas letras). Um belíssimo e merecido retorno. E pra quem se interessar, tem o link do álbum no Twitter (@octopuslandmp3)